top of page
Buscar

Sobre recomeçar

  • Foto do escritor: Seu Divã
    Seu Divã
  • 12 de fev.
  • 2 min de leitura

Quantos recomeços cabem em uma existência? Será que existe um limite de recomeços que uma vida pode suportar? Não há como ter uma resposta concreta para estes questionamentos pois a vida é um movimento constante de transformação e as possibilidades de mudanças são infinitas e subjetivas.


Com a sua complexidade, o viver nos impõe rupturas e reinícios que nos convidam a repensar sobre o lugar que estamos ocupando nas relações de modo geral.

Quantas vezes precisamos iniciar um novo ciclo? Quantas vezes precisamos desistir de um projeto e investir em outro? Quantas vezes precisamos lidar com a saudade e recomeçar após a perda de um ente querido? E os amores perdidos? Quantos recomeços nos exigiram ao longo da nossa vida?


Desde muito pequenos precisamos aprender a recomeçar…em um momento somos bebês que dependem exclusivamente do cuidador e depois precisamos ir nos acostumando com a sua ausência e isso já é um convite a recomeçar a enxergar uma nova realidade. Mais a frente precisamos recomeçar aprendendo a pedir o que desejamos, a engatinhar e logo andar. Donald Winnicott, psicanalista inglês, ensina que o desenvolvimento emocional de um indivíduo depende de fatores herdados, inclusive tendências patológicas, mas salienta também que “os processos de amadurecimento dependem da provisão do ambiente” e “quando o bebê chega aos dois anos de idade, já se iniciaram novos desenvolvimentos, e esses habilitam a criança a lidar com a perda.”


Sendo assim, a forma como vivenciamos essas primeiras experiências de vida vão dizer muito sobre a forma como lidamos com a necessidade de recomeçar. Digo necessidade porque os recomeços têm em si uma certa urgência, mesmo que a gente tente permanecer num lugar conhecido somos compelidos pela vida de uma forma mais ou menos impositiva a se aventurar em uma nova trajetória.


O recomeçar sempre vai envolver uma reconstrução de si mesmo, o que não acontece de forma instantânea, e sim de forma gradual à medida que se reconhece e integra a nova realidade que se faz presente. Além disso, os recomeços nos exigem também a reavaliar as experiências vividas e inclusive a ter que juntar alguns pedaços de nós mesmos que ficaram espalhados, e isso pode causar uma certa angústia, um medo do desconhecido, uma insegurança. Sair de um lugar familiar para o infamiliar, costuma nos causar desconforto e uma intensidade de emoções não experimentadas até então. Desta forma a ideia de recomeçar pode vir permeada de sofrimento e dor devido a complexidade envolvida neste movimento de olhar para o passado que muitas vezes continua se presentificando.


Sair de uma certa posição de controle também pode se tornar um motivo de sofrimento na tarefa inadiável de recomeçar. Aceitar que o viver é permeado de contingências e de situações inesperadas e incontroláveis pode levar a uma sensação de impotência diante das situações.


Mas como bem colocado por Alexandre Coimbra Amaral: “Não há recomeço eficiente simplificando a identidade do problema.”, ou seja, é preciso parar para realmente olhar com profundidade nossas emoções, sem ignorar a complexidade que envolve todo o processo de recomeçar.


Por: Danielle Vignoli - Psicanalista



Comments


bottom of page